Mostrando postagens com marcador lutadiária. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador lutadiária. Mostrar todas as postagens
Cá estou eu de volta com minha indignação. Dessa vez eu fiquei encucada desde ontem com uma coisa que a minha mãe disse. Começamos a vender pizzas pra aumentar a renda e o motivo de a minha mãe não querer algumas coisas na hora da venda como bebidas e ponto para que as pessoas sentem, é que ela não quer que homens mecham com minhas irmãs e eu. Aí mais uma vez senti uma ferida remexida. Não posso fazer algo porque alguns idiotas vão importunar e segundo minha mãe, não teremos com o que revidar, porque somos mulheres. Esse tipo de situação me estarrece tanto que me pergunto o motivo de tantas pessoas tentarem invalidar um movimento tão lindo quanto o feminismo. Aguardo ansiosamente pela abertura da mente de todas essas pessoas.




contextualizando com o que sinto, lá vai uma sátira pra ver se serve de semancol.
http://www.portadosfundos.com.br/video/piranho/
 
Esse post é um misto de desabafo com agradecimento. É um desabafo porque pra agradecer, preciso dizer o por que, e aí entra o desabafo. Sei que com isso, me exponho, mas faz-se necessário e me exponho porque muitas das coisas do desabafo já não me incomodam mais.
 Comecei a me sentir uma aberração quando eu tinha sete anos e passei pra alfabetização. Antes disso eu era bem feliz e leve. Eu corria sem blusa, meus cachos ficavam soltos quando eu queria, ninguém me dizia que tinha coisa de menino e menina. Eu era criança. Aí veio a série de aprender a ler e eu achei que seria o máximo. Mas não foi tão legal assim. Eu não tinha amigos. As meninas me sacaneavam porque eu não era feminina, os meninos me sacaneavam porque eu não era feminina. Eu nem sabia o que significava, mas era sapatão. E eu pensava, meu pé é grande, mas e por que isso me desqualifica? Eu tinha boas notas, fazia todas as atividades, não tive dificuldade em aprender a ler, amava escrever, mas ainda assim não era capacitada pra ter amigos. Eu era estranha. Nas séries seguintes não foi diferente, quando eu acertava uma pergunta, os meninos gritavam "perfect!" e não era um elogio, era uma forma de reafirmar pra turma que eu não era legal, porque ao ouvirem isso, muitas piadas surgiam então eu sabia que não me achavam legal por saber responder. 
 E com esses anos passando, eu não desenvolvi o menor interesse em meninos, meninas ou roupas fofinhas e "de menina". Eu gostava de  brincar com meus brinquedos, de desenhar, escrever, de fazer coleções de livros, massa de modelar, casacos, cd's. Eu gostava de apostar corrida de bicicleta e de jogar vídeo game. E eu cresci, e eu continuei assim, sendo dese jeito. Ora me sentia menino, ora me sentia menina, e achava estranho, e tinha vergonha de compartilhar. Os abusos sexuais que sofri só me fecharam mais e me deixaram ainda mais transitória entre esses gêneros. Não queria roupas muito femininas, nem nada muito masculino. Se fosse básico eu usava. Assim eu cheguei no fundamental II e percebi que ser assim não era permitido, então eu arrumava o cabelo, porque assim eu parecia uma menina e as pessoas me importunavam menos. Mas não foi o suficiente, porque alguém disse eu realmente não sei quem, que o fundamental II é a época em que as pessoas tem que ficar com outras pessoas - mas só do sexo oposto.
 Vi dois colegas gays ficarem com garotas pra não sofrerem zoação, vi que os meninos continuavam me achando estranha e as meninas me cobravam alguma postura perante os meninos. Fingi paixonites. Disse que tinha me apaixonada, mas que havia passado, assim, ninguém me perturbava. Houve um tempo em que realmente me apaixonei, mas foi por uma colega do judô, bem mais velha que eu. Aquela velha história da pessoa X que se apaixona por seu vizinho Y e que eles têm alguma atividade em comum, mas esse um nunca consegue nada e nem se declara, e foi oque rolou. 
 Eu continuei me desenvolvendo e me percebendo diferente e sendo diminuída por isso. Me sinto um nada na faculdade, em casa... Não sou vaidosa da forma certa, não valorizo "a minha beleza", não uso roupas que mostrem que sou mulher... As pessoas querem coisas binárias e não alguém como eu. Mas aí entra a parte em que agradeço.
 agradeço por ter conhecido a minha namorada que me ama da forma como sou e nunca exige essas coisas que não sei ser de mim. E agradeço a um grupo que criei pra discussão e que me mostrou tanta coisa. Foi graças a ele que aprendi não faz muito tempo que sou do grupo de "gênero fluido", e que isso não faz de mim uma aberração. Tenho aprendido muito com pessoas que nunca imaginei aprender. E assim, eu me amo um pouquinho, já que fui ensinada a não gostar de nada no meu corpo, porque ele é estranho e feio. Aprendi a me amar mais um pouquinho por não ser binária e isso não me torna o monstro do lago Ness. Então, muito obrigada pessoinhas lindas do Transcendental.

Ou ausência dela


Ia escrever um post sobre o quão infantil algumas pessoas insistem em ser, então eu vi um vídeo do Rafinha Bastos bancando a vítima de pregar a baboseira dele, e pensei em escrever sobre isso, mas então percebi que daria na mesma publicação, uma vez que ambas as coisas tratam-se infantilidade. 
 Crescemos nos misturando a grupos de amigos que vez ou outra levamos para nossa vida adulta, e como curso normal das coisas, acreditamos que todos amadurecem, que continuam divertidos como eram, mas com maturidade nas horas necessárias. E a frustração vem quando você percebe que essas pessoas não amadureceram.De certo modo, isso causa irritação, já que essas pessoas tem valor emocional pra você, e a irritação aumenta quando você se dirige a essas pessoas e fala que elas precisam crescer porque o ensino médio já acabou e que agora é hora de ser gente grande, mas elas simplesmente preferem se manter crianças dependentes de alguém mais velho, maior. Tem também as pessoas que estão acostumadas a todos a volta dizerem amém a suas birras e comandos. A ser sempre a temida e obedecida, mas um dia isso sai de foco, e as pessoas resolvem obedecer a outros, e e esses outros não massageiam o ego do que gostava de mandar e ser obedecido, então intrigas são criadas e uma bola de neve vai crescendo. O mesmo ocorre com o pessoal que fica chorando as mágoas por não poder ficar falando o que acham que é opinião deles, mas na verdade é reprodução de babaquice e afins. então fica sempre a pergunta no ar: Qual a dificuldade em crescer dessas pessoas?? Por que essa vontade de fazer merda sabendo que é merda e que vai se transformar numa merda ainda maior?! Tenho sempre esses questionamentos quando me deparo com esse tipo de situação porque sempre me vem a mente o fato de que o nosso curso normal é o aprendizado, e vemos tantas pessoas posando de intelectuais, nomes grandes e de grande visibilidade midiática tecendo comentários tão arcaicos, pré-históricos e preconceituosos que fico realmente intrigada sobre esse tal caminho de evolução humana. Bom, era esse o desabafo da vez.



Além da pessoa que vos escreve ser quase uma designer formada e apreciar essa arte imensamente, essa imagem também mostra meu apoio à Luciana. Nenhum dos candidatos é perfeito, mas votamos naquilo que se aproxima de nossa realidade e de nossos ideais de sociedade justa e melhor resolvida, sendo assim, voto de consciência limpa e coração leve na candidata que me conquistou por propostas, respostas e por não se deixar abater por tanta ignorância e infantilidade mostradas dentro do percurso a presidência. 

Atualmente, 63 países em desenvolvimento atingiram a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e a América Latina e o Caribe se destacam com os maiores avanços


Cerca de 805 milhões de pessoas no mundo sofrem de fome, de acordo com o novo relatório das Nações Unidas divulgado hoje. O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo (SOFI 2014, na sigla em inglês) confirmou a tendência positiva global de diminuição do número de pessoas que passam fome, reduzindo 100 milhões na última década e mais de 200 milhões em relação a 1990-1992.
A tendência geral na redução da fome nos países em desenvolvimento significa que o Objetivo de Desenvolvimento do Milénio (ODM) de reduzir pela metade a proporção de pessoas subalimentadas até 2015 pode ser alcançado “se os esforços adequados e imediatos forem intensificados", aponta o relatório. Atualmente, 63 países em desenvolvimento atingiram a meta dos ODM, e mais seis estão próximos de alcançá-la em 2015.
O documento aponta que a erradicação da fome requer o estabelecimento de um ambiente favorável e de uma abordagem integrada, o que inclui investimentos públicos e privados para aumentar a produtividade agrícola; o acesso à terra, serviços, tecnologias e mercados; e medidas para promover o desenvolvimento rural e a proteção social para os mais vulneráveis.
O relatório também enfatiza a importância de programas de nutrição específicos, principalmente para corrigir as deficiências de micronutrientes de mães e crianças menores de cinco anos.
O relatório é publicado anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

A redução da fome acelerou, mas alguns países ainda não avançaram
Apesar dos avanços significativos em geral, várias regiões e sub-regiões ainda não avançaram. Na África Subsaariana, mais de uma em cada quatro pessoas permanecem cronicamente subalimentados. Na Ásia, região mais populosa do mundo, 526 milhões de pessoas passam fome.
A Oceania apresentou uma melhoria modesta na prevalência de desnutrição (1,7% de queda), que era de 1 % em 2012-14. Por outro lado, a América Latina e o Caribe se destacam como a região com os maiores avanços globais no aumento da segurança alimentar.
De acordo com o relatório a proporção de pessoas que sofre com a subalimentação na região América Latina e Caribe caiu de 15,3% em 1990/92 a 6,1% em 2012-2014, totalizando 37 milhões, diferente das 68,5 milhões registradas em 1990-92. Isso significa que em pouco mais de duas décadas, 31,5 milhões de homens, mulheres e crianças superaram a subalimentação.
A América Latina e o Caribe também é região que concentra o maior número de países que alcançaram o ODM relacionado à fome. No total, 14 países já cumpriram a meta e, segundo o SOFI, outros três países estão a caminho de alcançar antes de 2015.
O relatório deste ano traz ainda  sete estudos de caso - Bolívia, Brasil, Haiti, Indonésia, Madagascar, Malaui e Iémen - que destacam algumas iniciativas de como estes países estão combatendo a fome. Os países foram escolhidos por causa de política, economia, diversidades e diferenças culturais, principalmente no setor agrícola.

Brasil: país cumpriu com ambas as metas
Dos países da América Latina e Caribe, o Brasil foi um dos que cumpriu tanto a meta de reduzir pela metade a proporção de pessoas que sofrem com a fome (meta 1C dos ODM) quanto à meta de reduzir pela metade o número absoluto de pessoas com fome (meta CMA). No período base (1990-1992), 14,8% das pessoas sofriam de fome. Para o período de 2012-2014, o Brasil reduziu a níveis inferiores a 5%.
Para a Representante Regional Adjunta da FAO para a América Latina e Caribe, Eve Crowley, a implementação de um conjunto de políticas públicas de forma articulada e integrada, com o estabelecimento de marcos legais e institucionais permitiram os avanços do país na superação da fome. “Nos últimos anos, o tema da segurança alimentar foi posto no centro da agenda política do Brasil. Isso permitiu que o país alcançasse tanto o primeiro objetivo do ODM como da Cúpula Mundial da Alimentação”, avaliou Eve Crowley.
Os atuais programas que têm como objetivo erradicar a pobreza extrema no país estão focados na vinculação de políticas para o fortalecimento da agricultura familiar com a proteção social de forma inclusiva. “Há ainda muito a ser feito no Brasil, mas as conquistas estão preparando o país para os novos desafios que deverão enfrentar”, ressalta a Representante Regional Adjunta da FAO.



Texto de Bia Cardoso para as Blogueiras Feministas.

Estreou na última terça-feira, “O Sexo e as Negas”, nova série das terça-feiras na Rede Globo. Desde que foi anunciado, o programa vem provocando questionamentos, críticas e ações de boicote, especialmente por parte das mulheres negras. Infelizmente, o primeiro episódio mostrou que muitos dos temores se confirmaram.
A primeira cena vai ao passado, em 1926, para contar como se deu a formação da Favela da Praia do Pinto. Quem esperava logo no início o protagonismo estampado das negras, surpreende-se ao ver que essas primeiras cenas contam a história do nascimento de Jesuína, vivida pela atriz branca, Claudia Gimenez. Tudo isso com narração do autor branco, Miguel Falabella. Apenas aos 2 minutos, avistamos as quatro protagonistas, entrando em cena triunfal com roupas e cabelos estilosos, na linha Sex And The City que o seriado pretende emular.
Porém, diferentemente do seriado americano, em que sexo e homens eram alguns dos principais assuntos, mas todas as protagonistas tinham também carreiras profissionais e tornavam-se cada vez mais bem sucedidas em suas vidas; “O Sexo e as Negas” resume tudo a sexo e homens, inclusive o problema da mobilidade urbana e do transporte público.
Uma das primeiras frases ouvidas é que: “o problema do transporte acaba atrapalhando a vida amorosa da gente”. Quando mostram duas das personagens no metrô lotado não há discussão sobre assédio e nem o que poderia ser feito para melhorar a questão do excesso de passageiros. A solução é comprar um carro, veja só! Para comprar um carro é preciso dinheiro. Fora o fato de que é estranhíssimo quatro mulheres tão descoladas não terem pesquisado e se informado sobre valores de carros usados, já que elas chegam ao vendedor como se não tivessem nenhuma noção, a solução encontrada para conseguir dinheiro é jogar no Jogo do Bicho, o que no Brasil é crime.
Então, vamos pegar nossa cartela do Bingo e marcar a lista de estereótipos em relação a mulheres negras e pessoas que vivem em comunidades, especialmente no Rio de Janeiro:

1) mulheres negras estão o tempo todo pensando em homens;

2) mulheres negras estão sempre prontas para fazer sexo no local de trabalho ou carros usados, desde que eles custem 15 mil reais;

3) pessoas que vivem em comunidade estão sempre envolvidas com atos criminosos, seja com o chefe do tráfico ou com o Jogo do Bicho;

4) “As mulheres todas querem casar, todas elas tem a mesma coisa na cabeça, arrumar quem pague as contas”, afirma Big, homem negro que tem esse nome por ter um pênis grande;

5) “A única coisa que bota um cara na cadeia no Brasil é pensão alimentícia, por isso a primeira coisa que elas fazem é arrumar um filho”, complementa o personagem Adilson, pedreiro branco que provavelmente não conhece a realidade das cadeias brasileiras.

Portanto, por mais que as protagonistas sejam guerreiras, trabalhadoras e que não levam desaforo para casa, no fundo elas só querem um homem para bancá-las e uma pensão alimentícia para garantir(?) o futuro. Que retrato bacana, não é mesmo? É tão bom quando nos mostram que por mais que as mulheres negras ascendam socialmente, tenham sonhos, lutem por eles, sempre haverá alguém para dizer onde é exatamente o lugar delas.
Isso fica bem explícito em duas cenas. Na primeira, a personagem Soraia está esperando a patroa entregar o pagamento do dia como cozinheira, enquanto isso, o patrão chega de cueca com o peito desnudo e a olha lascivamente. Em outra cena, a atriz famosa da qual Zulma é camareira pede que ela guarde uma jóia. Zulma diz que tem receio de sair na rua com uma pulseira tão cara, ao que a personagem da atriz responde: “E você acha que no seu braço alguém vai achar que é de verdade?”.
Nesse primeiro episódio, as quatro negras enfrentam diferentes situações de machismo e racismo, mas apenas Lia responde de forma explícita como visto na cena da churrascaria em que trabalha.
Quando criticamos o programa, o autor e a Rede Globo, não estamos dizendo que Miguel Falabellaé o anti-cristo do racismo e que deveria ser preso, estamos apontando que os estereótipos estão se repetindo mais uma vez. Quando enfatizamos que é um autor branco escrevendo sobre mulheres negras, que uma atriz branca encarna o papel da sabedoria para as personagens negras, estamos explicitando que há pouquíssimas pessoas negras exercendo o papel de criadores (autores, roteiristas, diretores) na televisão. Um veículo que ainda é o maior meio de comunicação do pais e que isso tem consequências diretas na vida das mulheres negras brasileiras.
O retrato da mulher negra na televisão tem relação direta com a imagem da mulher negra forjada no período escravocrata, com algumas poucas mudanças aqui e acolá. Ao chamarem as críticas de moralistas, questionando: qual o problema em associar negras ao sexo? As pessoas esquecem que, no Brasil, as mulheres negras tem mais chances de serem vítimas de violência, especialmente estupros, porque são vistas como promíscuas, lascivas, provocadoras. Não faz muito tempo, a cervejaria Devassa fez uma campanha publicitária extremamente racista em que sua cerveja preta era vendida com o slogan: “É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra”.
A mulher negra é extremamente sexualizada por nossa cultura, que a coloca na maior parte das vezes como uma transa exótica. Ao mesmo tempo que é sedutora, é pecadora, pois não é vista como a mulher decente, a mulher para casar. De que cor falamos quando usamos a expressão “da cor do pecado”?
As mulheres negras recebem menos anestesia em hospitais e sofrem mais violência obstétrica, porque mulher negra é forte, aguenta tudo. Não é à toa que o termo “mulata”, tão exaltado como representação da beleza negra, tenha sua origem na palavra “mula”, animal utilizado especialmente para carga.
As mulheres negras veem diariamente o genocídio dos jovens negros ceifarem a vida de seus filhos, mas quem se importa quando mais um negro morre na periferia de uma grande capital? Logo elas terão outros filhos, afinal, mulher negra e pobre no Brasil sempre tem um monte de filhos, não é?
Para que você, mulher negra, quer fazer uma universidade de elite? Cota é para quem é vagabunda! Volte para seu lugar, pois minha preocupação é: como farei para ter um empregada doméstica, agora que elas tem tantos direitos? Esses são apenas alguns exemplos das consequências da imagem da mulher negra que está fixada no imaginário social.
Temos visto, nos últimos anos, inúmeros casos de racismo sendo denunciados e expostos, muitas pessoas negras não ficam mais caladas diante dos absurdos cotidianos. Porém, a sociedade brasileira insiste em fechar os olhos para a gravidade do problema, se recusa a implementar ações para resolver a questão, que não pode passar só pela criminalização. A educação, as cotas raciais, as críticas a imagem do negro nos meios de comunicação, o atendimento a essa população específica nos órgãos públicos, entre outras questões, tudo está interligado.
Sabemos bem o que acontece quando apontamos o racismo. Logo gera-se uma “polêmica”. A primeira coisa que fazem é negá-lo ou relativizá-lo. A segunda é apelar para o mito da democracia racial, tão conveniente para aqueles que estão no poder. A terceira é dizer que tem parentes, amigos ou empregados negros. A quarta é reclamar nas redes sociais que não se pode mais chamar um bolo de chocolate de nega maluca. A quinta é gritar: racismo reverso! Como se fosse possível jogar 300 anos de cultura escravocrata com um guindaste numa pessoa branca. Chega-se até mesmo a dizer que o racismo não existe, porque muitas vezes perder a cabeça e dizer algo ofensivo é biológico, como tenta nos fazer acreditar um médico neurologista num programa matinal de televisão.
A boa notícia é que hoje as mulheres negras estão cada vez mais dispostas a brigar por respeito e isso incomoda muito, porque significa que novos espaços serão conquistados por elas, nem que seja na base da força. Por isso, convido você a acompanhar o projeto #AsNegaReal das Blogueiras Negras que pretende apontar e debater o racismo presente nesse novo programa.
Por fim, dois projetos estrangeiros que mostram como poderia ser um Sex And The City escrito por mulheres negras: An African City, criação de Nicole Amarteifio e Girlfriends, criação de Mara Brock Akil.



Materia extraída do Portal Geledés  

 Sou negra. Não morena, nem moreninha. Não sou mulata, e não lhe dou liberdade de me chamar de nêga. Não sem antes me conhecer e saber minha realidade. Começo esse desabafo assim, desaforada, porque estou farta de ser taxada de tudo que é coisa por ser negra, por ser mulher.
 Acho um absurdo ver esse bando de branco se dizendo representante de nós, negros. Como você representa algo que não faz parte da tua realidade? Que você apoie, simpatize, lute ao lado, mas não se coloque a frente, não fale por nós.
Temos voz, sabemos falar por nós e acredite, só nós podemos responder por nós. Só quem sofre o racismo velado na pele diariamente é quem pode reclamar das mazelas que é ser negro num país de maioria negra, mas que age como branco, porque assim nos foi imposto. É tão triste saber que se declarar negro é motivo de descriminação, de chacota, de redução.
Vocês brancos tem o péssimo costume de se meter em tudo, querer validar tudo, dizer amém ao que acha que lhe convém ao que acha que é da sua alçada também, mas tenho uma coisa a lhe dizer: não é. Eu não preciso do teu amém para dizer que sou negra, que me assumo com meu cabelo crespo, com meus traços negros, com minha realidade negra. Não é você quem valida isso, sou eu.
Sou eu quem acorda todos os dias e aprende a se orgulhar da cor e da origem um pouco mais. Quando eu digo que não vou alisar meu cabelo porque você acha bonito, eu estou dizendo que não vou alisar porque amo meu cabelo natural. Quando eu digo que meu corpo é meu, que a minha vida sexual pertence à mim e que eu não levo uma vida promíscua só porque você quer, eu estou dizendo pra você parar de agir como se todo negro tivesse pênis grande e toda negra desse pra todo cara que quisesse.
E quanto a esse povinho metido a escritor negro, se comparando a mais negros... É, estou falando do tal do Miguel Falabella. Querido você não é o Spike Lee. E você pode até escrever sobre a sua realidade, mas sinto informar que sua realidade é misógina, racista. Você é bem famoso por criar bordões que diminuem. “Eu tenho horror a pobre”, já dizia teu personagem, o Caco Antibes. Tua série me causa asco e a tua defesa me causa tanto nojo que eu até ri, tamanha ‘ridicularidade’ do que estava escrito. Você tanto diz defender as negras e a forma como elas vivem, diz tanto não vulgariza-las que simplesmente começou teu texto objetificando a moça que você disse ter contribuído para o título da tua série.
Eu não sou representada por sexo e badalação. Me coloque como alguém que batalha, me descreva como uma rebelada que se mostrou dedicada aos estudos e não ao que todos dizem que serei. Eu sou pobre, e muitos negros também, mas as camareiras, as professoras, as domésticas, as ambulantes, as putas... São mais dignas que as descritas em séries feitas de brancos para brancos. Eu li no blogueiras negras essa semana o que levarei para toda a minha vida: só um negro pode escrever sobre o que é ser negro, sobre a vida negra... Então parem vocês brancos de agir como se soubessem o que é ser negro. Vocês não têm a mínima ideia da delícia e da dor de ser o que somos, quem somos, como somos. Escrevam sobre vocês, a realidade de vocês. Dizer que escreve sobre um negro pra por dois negros atuando num elenco de 30 atores brancos, e dizer que assim está dando oportunidade ao negro... Sinto dizer, mas nem mesmo os pombos gostam de comer migalhas por toda a vida.