Esse post aqui é sobre mim e minha "evolução" em tantos termos que tenho medo dessa publicação ficar realmente longa, mas vai ser necessário.
Eu cresci me sentindo diferente das outras meninas e meninos e por isso, me sentia solitária. Eu não era feminina, mas também não era masculina, só que pras pessoas a minha volta isso era confuso, porque uma menina tem que ser feminina, menininha e de preferência, gostar de rosa e de Barbie. Mas eu não era assim. Eu amava ter minhas bonecas - que não eram Barbie, porque eu nunca quis -, mas eu também amava sair com os moleques da rua e brincar de bicicleta, jogar vídeo game; eu amava ficar sozinha e escrever minhas histórias, desenhar os personagens, ouvir música, ver filme, fingir ser dona de restaurantes, escolas e afins, e nisso tudo, eu não me via nem menino e nem menina, me via eu. Ana. E eu queria mais do que tudo que as pessoas percebessem isso e me deixassem ser eu. Eu queria continuar andando sem camisa e com os joelhos ralados, mas me diziam que eu tinha que cobrir os seios, mas que seios? E meu cabelo? Esse tinha que estar devidamente penteado, o volume tinha que estar domado, e a medida que fui crescendo ele foi aquecido e alisado. Tinha que manter os cabelos escovados. Não pode não ter "vaidade", tem que estar sempre com roupas de mocinha, cabelo arrumado, e esses mimimi's todos que nos impõem desde tão cedo que raras vezes nos desviamos disso com maestria e rapidez.
Essas amarras nos deixam pior e menor a cada dia, e comigo não foi diferente. Não culpo meus pais por terem sido criados nesse ritmo de mulher feminina e homem masculino - o Brasil tende a ser binário mesmo -. Com isso, eu me senti sempre menor que as outras garotas. Não me senti nunca uma das garotas bonitas, nem a que tem jeitos e modos delicados, nem a que mamãe e papai pediram a Deus, tamanha feminilidade. De acordo com os padrões hétero-normativos, machistas, eu tenho pés grandes, sem cava, feios; mãos grandes, dedos longos, mãos feias; sem seios grandes, sem bunda grande, sem cabelos longos, estranha, no máximo, bonitinha. Já cansei de passar por racismo disfarçado de sorrisos gentis. A "moreninha", "mulatinha", nunca a negra, a preta, que é o que eu sou. E então eu fui saturando, cansando de ser tudo o que queriam e comecei a me trabalhar pra ser o que eu quero ser, o que eu sou.
Em 2009 comecei a ter interesse por garotas também. Foi terrível pra mim, me senti tão confusa, mas tão bem também. Eu estava me conhecendo, mas não tinha com quem falar, fiz amigos, mas sempre tive problemas sérios em me abrir, e então engoli muito de mim por mais tempo. Em 2010 contei pra meus pais, foi um inferno. Pensei em me matar, e até tentei, confesso. Eu também parei de comer toda e qualquer coisa que apresentasse uma taxa de coisa saudável, de estômago vazio, me entupia de café e doces. Mas aí, eu encontrei uma amiga em um milhão, que me deu a mão de um modo tão grande, e que nem sabe que fez tanto, mas me livrou de tirar a vida, de ir desistindo dela aos poucos. Eu agradeço MUITO a ela por ter colado em mim, por ter sido a primeira pessoa que falou comigo quando entrei pro colégio, a que brincava comigo, que era o meu caso, a ela sou imensamente grata.
Essas amarras nos deixam pior e menor a cada dia, e comigo não foi diferente. Não culpo meus pais por terem sido criados nesse ritmo de mulher feminina e homem masculino - o Brasil tende a ser binário mesmo -. Com isso, eu me senti sempre menor que as outras garotas. Não me senti nunca uma das garotas bonitas, nem a que tem jeitos e modos delicados, nem a que mamãe e papai pediram a Deus, tamanha feminilidade. De acordo com os padrões hétero-normativos, machistas, eu tenho pés grandes, sem cava, feios; mãos grandes, dedos longos, mãos feias; sem seios grandes, sem bunda grande, sem cabelos longos, estranha, no máximo, bonitinha. Já cansei de passar por racismo disfarçado de sorrisos gentis. A "moreninha", "mulatinha", nunca a negra, a preta, que é o que eu sou. E então eu fui saturando, cansando de ser tudo o que queriam e comecei a me trabalhar pra ser o que eu quero ser, o que eu sou.
Em 2009 comecei a ter interesse por garotas também. Foi terrível pra mim, me senti tão confusa, mas tão bem também. Eu estava me conhecendo, mas não tinha com quem falar, fiz amigos, mas sempre tive problemas sérios em me abrir, e então engoli muito de mim por mais tempo. Em 2010 contei pra meus pais, foi um inferno. Pensei em me matar, e até tentei, confesso. Eu também parei de comer toda e qualquer coisa que apresentasse uma taxa de coisa saudável, de estômago vazio, me entupia de café e doces. Mas aí, eu encontrei uma amiga em um milhão, que me deu a mão de um modo tão grande, e que nem sabe que fez tanto, mas me livrou de tirar a vida, de ir desistindo dela aos poucos. Eu agradeço MUITO a ela por ter colado em mim, por ter sido a primeira pessoa que falou comigo quando entrei pro colégio, a que brincava comigo, que era o meu caso, a ela sou imensamente grata.
Então, resolvi viver e enfrentar todas as coisas que viessem em frente, eu encontrei mais amigos, e então me aceitei como eu era, como eu sou. Ainda não tinha me livrado da ditadura que era ter os cabelos escovados todo o tempo e eu achava aquilo normal, legal, o certo a se fazer, afinal, o meu cabelo não era "bom", era misto, era volumoso e isso não era das normas, não era bonito. Cresci mais, estudei mais e o gosto por escovar o cabelo e fazer chapinha só diminuiu. Deixei cachear, voltei pra chapinha, fiquei com ela por mais tempo do que queria, deveria, e só a poucos meses atrás, depois de ler, ver, perceber e entender que eu sou bonita da forma que eu me sinto bem, que eu sou linda sim, sem precisar da aprovação de homem ou mulher alguma. Que cada beleza tem sua particularidade e que esses moldes criados não me serviam a tanto tempo, que eu sentia dores por usar coisas que não me serviam, como um sapato menor que o teu pé, mas que tu insiste em usar, sabe? E esse sapato sempre fora menor que meu pé grande, número 39. Descalcei o sapato e calcei sandálias, tênis e tudo o mais que me cabia, estudei feminismo e me vi nele, me vi representada, então ergui minha bandeira de mulher, bissexual e não binária. Nem feminina e nem masculina. Eu. Ana. Yoshi. A senhora de mim e das minhas vontades. Deixei os cabelos livres, parei de esquentá-los, porque eles são lindos da forma natural que nasceram pra ser. Cortei eles bem curtinhos e tô me sentindo mais mulher que muita modelo. Não esperem a vaidade extrema normativa vindo de mim, não. Esperem eu sendo mais eu, eu sendo mais decidida, mais firme, mais bonita por fora por me sentir estupidamente eu por dentro e em cada poro possível.
Se eu soubesse que cortar meus cabelos e me libertar me traria tanta liberdade em tantos termos, eu teria feito tudo isso antes e deixo claro que faria infinitas vezes se necessário, porque ser eu é uma delícia e espero que você que está lendo, perceba que ser você também é uma delícia. Eu tenho aprendido o prazer e a dor de ser eu, de ser mulher e preta, e isso me faz mais forte. Muda o que te incomoda, seja o que é e tu vai ver a vida bem diferente.
Se eu soubesse que cortar meus cabelos e me libertar me traria tanta liberdade em tantos termos, eu teria feito tudo isso antes e deixo claro que faria infinitas vezes se necessário, porque ser eu é uma delícia e espero que você que está lendo, perceba que ser você também é uma delícia. Eu tenho aprendido o prazer e a dor de ser eu, de ser mulher e preta, e isso me faz mais forte. Muda o que te incomoda, seja o que é e tu vai ver a vida bem diferente.
Ps.: O texto tá longo e nem sei se tudo faz sentido, mas okay, depois eu corrijo tudo isso aqui. Obrigada por ler, se é que alguém leu xD
Oi Ana!
ResponderExcluirVi seu blog pela página da Lola e Parabéns!
Não só pelo belo texto acima, mas também pelos ideais e iniciativa!
Abraços,
Geise
Muito obrigada, Geise!
ExcluirE seja muito bem vinda ao meu depósito de coisas!
Abraços