Sou
negra. Não morena, nem moreninha. Não sou mulata, e não lhe dou liberdade de me
chamar de nêga. Não sem antes me conhecer e saber minha realidade. Começo esse
desabafo assim, desaforada, porque estou farta de ser taxada de tudo que é
coisa por ser negra, por ser mulher.
Acho um absurdo ver esse bando de branco se
dizendo representante de nós, negros. Como você representa algo que não faz
parte da tua realidade? Que você apoie, simpatize, lute ao lado, mas não se
coloque a frente, não fale por nós.
Temos
voz, sabemos falar por nós e acredite, só nós podemos responder por nós. Só
quem sofre o racismo velado na pele diariamente é quem pode reclamar das
mazelas que é ser negro num país de maioria negra, mas que age como branco,
porque assim nos foi imposto. É tão triste saber que se declarar negro é motivo
de descriminação, de chacota, de redução.
Vocês
brancos tem o péssimo costume de se meter em tudo, querer validar tudo, dizer
amém ao que acha que lhe convém ao que acha que é da sua alçada também, mas tenho
uma coisa a lhe dizer: não é. Eu não preciso do teu amém para dizer que sou
negra, que me assumo com meu cabelo crespo, com meus traços negros, com minha
realidade negra. Não é você quem valida isso, sou eu.
Sou
eu quem acorda todos os dias e aprende a se orgulhar da cor e da origem um
pouco mais. Quando eu digo que não vou alisar meu cabelo porque você acha
bonito, eu estou dizendo que não vou alisar porque amo meu cabelo natural.
Quando eu digo que meu corpo é meu, que a minha vida sexual pertence à mim e
que eu não levo uma vida promíscua só porque você quer, eu estou dizendo pra
você parar de agir como se todo negro tivesse pênis grande e toda negra desse
pra todo cara que quisesse.
E
quanto a esse povinho metido a escritor negro, se comparando a mais negros...
É, estou falando do tal do Miguel Falabella. Querido você não é o Spike Lee. E
você pode até escrever sobre a sua realidade, mas sinto informar que sua
realidade é misógina, racista. Você é bem famoso por criar bordões que diminuem.
“Eu tenho horror a pobre”, já dizia teu personagem, o Caco Antibes. Tua série
me causa asco e a tua defesa me causa tanto nojo que eu até ri, tamanha
‘ridicularidade’ do que estava escrito. Você tanto diz defender as negras e a
forma como elas vivem, diz tanto não vulgariza-las que simplesmente começou teu
texto objetificando a moça que você disse ter contribuído para o título da tua
série.
Eu
não sou representada por sexo e badalação. Me coloque como alguém que batalha,
me descreva como uma rebelada que se mostrou dedicada aos estudos e não ao que
todos dizem que serei. Eu sou pobre, e muitos negros também, mas as camareiras,
as professoras, as domésticas, as ambulantes, as putas... São mais dignas que
as descritas em séries feitas de brancos para brancos. Eu li no blogueiras
negras essa semana o que levarei para toda a minha vida: só um negro pode
escrever sobre o que é ser negro, sobre a vida negra... Então parem vocês
brancos de agir como se soubessem o que é ser negro. Vocês não têm a mínima
ideia da delícia e da dor de ser o que somos, quem somos, como somos. Escrevam
sobre vocês, a realidade de vocês. Dizer que escreve sobre um negro pra por
dois negros atuando num elenco de 30 atores brancos, e dizer que assim está
dando oportunidade ao negro... Sinto dizer, mas nem mesmo os pombos gostam de
comer migalhas por toda a vida.
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*u*
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